Estudadas desde a antiga Grécia, através dos trabalhos realizados pelos filósofos Aristóteles e Platão, as ontologias atualmente são um importante artefato de representação do conhecimento, utilizados nos campos: da Ciência da Informação, da Ciência da Computação e da Linguística.
Uma definição de fácil compreensão para ontologias é que elas são um instrumento para organização e representação do conhecimento, capazes de capturar, mapear e compartilhar o conhecimento de diversos tipos de domínio, com o intuito de estabelecer a verdade sobre a realidade, encontrando repostas para a questão “do que existe” (GRUNINGER; FOX, 1995; COELHO; ALMEIDA, 2012; MENDONÇA, 2015).
Ao longo dos últimos anos as ontologias tem sido experimentadas e utilizadas em diversos artefatos na área médica, como o estudo dos componentes do sangue e de Gestão do Conhecimento, através da padronização dos vocabulários como uma alternativa às terminologias de um determinado domínio (MENDONÇA, 2015). As ontologias atuam na interoperabilidade de sistemas, no uso de Inteligências artificiais (artificial intelligence) e na aprendizagem de máquinas (machine learning).
Surgido em novembro de 2019, o novo Coronavirus, SARS – CoV 2 (COVID-19), levou o mundo a uma situação de uma pandemia gripal de grande escala que não era experimentada pela população desde a Gripe Espanhola que ocorreu entre os anos de 1918 e 1919. Com alta capacidade de transmissão e de passar por mutações criando novas cepas, o vírus se espalhou pelo planeta de forma rápida graças a grande malha aérea existente atualmente.
Com os esforços voltados pela busca por um tratamento eficiente e por vacinas seguras, artefatos de inteligência artificial estão sendo amplamente utilizados e as ontologias também possuem um papel importante no controle desta doença.
Em uma busca na base de dados da Web of Science, encontrei alguns artigos científicos relacionando o uso das ontologias em alguma forma de trabalho relacionado ao combate da COVID-19.
Um dos estudos, desenvolvidos pelo Departamento de Bioinformática instituto Fraunhofer de Algoritmos e Computação Científica (SCAI), em Sankt Augustin e da Universidade de Bonn, ambos da Alemanha, desenvolveu um estudo a fim de oferecer suporte a abordagens de mineração de texto, bem como descrição de dados, vinculação e harmonização no contexto de COVID-19, desenvolvendo uma ontologia que representa as principais entidades do COVID-19. A ontologia tem um grande escopo em entidades químicas adequadas para reaproveitamento de drogas, pois este é um alvo importante do desenvolvimento terapêutico do COVID-19 (SARGSYAN et al., 2020). Ainda segundo os autores a ontologia compreende 2270 classes de conceitos, 2622 axiomas lógicos e 2434 axiomas de declaração, descrevendo as funções de entidades moleculares e celulares nas interações vírus-hospedeiro e no ciclo de vida do vírus, bem como um amplo espectro de conceitos médicos e epidemiológicos ligados ao COVID-19.
Um outro estudo desenvolvido pelo departamento de Ciência da Computação da Universidade de Cluj-Napoca, Romênia, investigou a utilização raciocinadores em Lógicas de Descritiva (Descrition Logic) que podem detectar inconsistências entre fontes médicas confiáveis e não confiáveis. As informações não confiáveis vêm em linguagem natural, como por exemplo, "Covid-19 afeta apenas os idosos" (GROZA, 2020). Segundo o autor a conclusão chegada demonstra que mesmo que as notícias falsas no domínio da saúde sejam ultrapassadas, muitos desafios técnicos permanecem para uma luta eficaz contra os mitos médicos. O trabalho, ainda preliminar, utilizou a combinação de duas ferramentas: processamento de linguagem natural e raciocínio ontológico com o objetivo de sinalizar informações falsas relacionadas ao Covid-19. Os demais estudos relacionado ontologias com o combate à pandemia da COVID-19 estão relacionados ao estudo de casos clínicos e a atenção primária ao combate ao vírus (ALAG, 2020; DE LUSIGNAN et al., 2020).
As ontologias são importantes artefatos de representação do conhecimento e integração de softwares utilizados nos trabalhos relacionados a inteligência artificias. Mais uma vez é possível verificar como o seu uso tem se disseminado em importantes áreas do conhecimento. Seu uso no combate a pandemia do COVID-19 tem sido importante na busca pelo protocolo ideal e tanto para os profissionais da área de saúde quanto para os pacientes, na busca por um medicamento eficaz e no desenvolvimento de vacinas seguras.
Prof. Murillo Modesto
Referências:
ALAG, S. Analysis of COVID-19 Clinical Trials: A Data-Driven, Ontology-Based, and Natural Language Processing Approach. PLOS ONE, v. 15, n. 9, p. e0239694, 30 set. 2020.
COELHO, K. C.; ALMEIDA, M. B. Aquisição de conhecimento para construção de ontologias: uma proposta de roteiro metodológico aplicado ao contexto da hematologia. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, v. 17, n. 35, 18 dez. 2012. Disponível em: <http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/19175>. Acesso em: 9 jul. 2019.
DE LUSIGNAN, S. et al. COVID-19 Surveillance in a Primary Care Sentinel Network: In-Pandemic Development of an Application Ontology. JMIR Public Health and Surveillance, v. 6, n. 4, p. e21434, 17 nov. 2020.
GROZA, A. Detecting fake news for the new coronavirus by reasoning on the Covid-19 ontology. arXiv:2004.12330 [cs], 26 abr. 2020. Disponível em: <http://arxiv.org/abs/2004.12330>. Acesso em: 8 maio. 2021.
GRUNINGER, M.; FOX, M. S. Methodology for the Design and Evaluation of Ontologies. p. 10, 1995.
MENDONÇA, F. M. Ontoforinfoscience: metodologia para construção de ontologias pelos cientistas da informação - Uma aplicação prática no desenvolvimento da ontologia sobre componentes do sangue humano (HEMONTO). 2015. 2015. Disponível em: <https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/BUBD-A35H3K>. Acesso em: 29 nov. 2019.
SARGSYAN, A. et al. The COVID-19 Ontology. Bioinformatics, v. 36, n. 24, p. 5703–5705, 15 dez. 2020.
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